RIO — A Fazenda Vilhena, no Cone Sul de Rondônia, a 708 quilômetros de Porto Velho, onde cinco pessoas foram assassinadas na última quarta-feira, já foi palco de outra chacina, que completa seis anos neste domingo. Na ocasião, quatro das vítimas tiveram os corpos queimados, pelo menos uma delas, um adolescente, ainda vivo. Um homem que foi baleado nas costas fingiu que estava morto e sobreviveu. Ele ajudou a polícia nas investigações do crime, que teria sido motivado por uma disputa de terras.
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Três dias antes das mortes ocorreria uma reintegração de posse na Fazenda Vilhena, onde viviam cerca de 70 famílias. Mas, quando a polícia chegou ao local para cumprir a decisão da Justiça, encontrou o terreno vazio. Os invasores, já sabendo da ordem, haviam deixado o local e derrubado os barracos construídos às margens da estrada.
Com a área desocupada, os donos da propriedade mandaram funcionários ao local. No dia 17 de outubro de 2015, Dagner Lemes Pereira, de 17 anos; o pai dele, João Pereira Sobrinho, de 52; José Bezerra dos Santos, de 64; Daniel Aciari, de 66; João Fernandes da Silva e outros dois homens que sobreviveram — entre eles a testemunha que ajudou a polícia — foram surpreendidos por seis pessoas armadas, que chegaram à fazenda em três motocicletas.
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O primeiro alvo dos assassinos foi José Bezerra. Após ser rendido e baleado no lote 75, pela manhã, ele teve o corpo arrastado para um matagal. À tarde, os atiradores voltaram à fazenda e seguiram para onde estavam as outras seis vítimas, no lote 85.
Daniel Aciari havia ido ao local apenas para visitar amigos. Ele não trabalhava na propriedade mas, mesmo assim, acabou sendo morto com um tiro na cabeça. Após essa execução, um dos sobreviventes conseguiu escapar do cerco correndo pela mata. As demais vítimas se refugiaram na casa. João Pereira e João Fernandes deixaram o imóvel com as mãos para o alto, mas mesmo assim foram obrigados a se deitarem no chão e foram baleados.
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Disparos foram feitos contra a residência. Depois, os atiradores deixaram o local para buscar combustível. Foi quando o outro sobrevivente, ferido, conseguiu fugir. Ao retornarem, os assassinos perceberam que Dagner ainda estava vivo — o jovem teria tentado socorrer o pai — e, mesmo assim, atearam fogo na casa. O adolescente gritou desesperado por ajuda, mas acabou morrendo carbonizado, de acordo com trechos do processo aos quais o GLOBO teve acesso. Segundo o desembargador Miguel Monico Neto, os assassinos fizeram o rapaz “sofrer de forma intensa e desnecessária”.
Em 2017, os réus Ebcer Maciel da Costa e Marlos de Souza Cândido, acusados de participação na chacina, foram condenados a 20 anos de reclusão. Eles haviam sido absolvidos pelo Tribunal do Júri em setembro de 2016. O Ministério Público, porém, entrou com um recurso e o julgamento foi anulado.
Em junho de 2018, Enilton Procópio foi condenado a 21 anos e quatro meses de prisão pelo Tribunal do Júri da Comarca de Vilhena. O acusado de ser o principal executor do crime, Ilário Danelli, conhecido como Índio Branco, está foragido. Ele teria sido um dos executores de Dagner e seu pai. Segundo as investigações, Ilário estaria com uma mochila cheia de munição.
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Ainda de acordo com as investigações, os responsáveis pelas mortes faziam parte de um grupo de pessoas que estavam inconformadas com a reintegração de posse da Fazenda Vilhena.
A chacina ocorrida na última quarta-feira, assim como a anterior, também teve requintes de crueldade. Bandidos cercaram a Fazenda Vilhena durante a noite. O dono da propriedade, Heladio Cândido Zenn, de 73 anos, conhecido como Nego Zen, foi levado para uma sala e torturado. Há indícios de que ele tenha tido o coração arrancado com um facão.
A mulher dele, Sônia Biavatti, de 55 anos, e três funcionários do casal — Oederson Santana, de 34; Jhonatan Rocha Borges dos Reis, de 21; e Amagildo Severo, de 53 — foram colocados de joelhos na varanda da casa e executados com tiros na nuca. Os corpos das vítimas foram encontrados nesta quinta-feira.
Uma caminhonete de Zenn e armas que ele tinha foram levados pelos bandidos, de acordo com a polícia.
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A mulher de um funcionário e duas crianças menores de 10 anos foram trancados num dos quartos da casa e conseguiram sair nesta quinta-feira de manhã, após quebrarem uma janela. Os três andaram por cerca de 15 quilômetros até conseguirem socorro e chamarem a polícia.
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