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Um levantamento feito pela Gazeta do Povo, com base nos dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), mostra que entre janeiro de 2022 e junho de 2024 Curitiba vem mantendo o maior preço por litro da gasolina comum entre as maiores cidades do Paraná. O valor cobrado pelo combustível, salvo em raras exceções, tem sido consistentemente maior do que a média estadual. A explicação para esse comportamento, dizem especialistas, está na cadeia de formação de preços, mais especificamente no preço cobrado pelas distribuidoras.
De acordo com os dados mais recentes da pesquisa, coletados entre os dias 23 e 29 de junho, o preço médio de revenda da gasolina comum na capital paranaense é de R$ 6,23, podendo chegar a R$ 6,29. Dados do histórico de levantamentos de preços da ANP mostram que a tendência de oscilação dos preços da gasolina em ambos os cenários é a mesma, com Curitiba quase sempre acima do preço médio do Paraná – R$ 6,05 de acordo com a ANP.
Esta tendência de figurar no topo do ranking estadual das cidades com os combustíveis mais caros vem sendo registrada em Curitiba, de forma contínua, desde junho de 2023. Naquele ano, Maringá foi a cidade paranaense com a gasolina mais cara durante os cinco primeiros meses do ano.
O pico no período analisado pela Gazeta do Povo ocorreu entre 19 e 25 de junho de 2022. Nesse período, o litro da gasolina comum em Curitiba chegou a R$ 7,54. O recorde se deu por conta dos reflexos da guerra entre Rússia e Ucrânia, iniciada em fevereiro daquele ano. O preço do barril de petróleo chegou perto dos R$ 140 no mercado internacional, o maior valor em 14 anos.
Um projeto de lei que unificou e reduziu as alíquotas do ICMS foi aprovado, e já no fim de junho o preço da gasolina começou a cair. Impactado pelas reduções dos preços praticados pela Petrobras junto às distribuidoras, o preço do combustível na bomba ficou abaixo dos R$ 5 em setembro de 2022 – fato que só voltou a ocorrer em janeiro de 2023.
No Paraná, a tributação, que chegou a 17% durante a vigência dessa medida, passou para 19,5% no final de 2023. Para Claudio Shimoyama, professor do curso de Ciências Econômicas da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), esta seria uma das explicações para o alto preço da gasolina em Curitiba.
“Isso acaba influenciando até na média do estado, o que faz a gasolina do Paraná ser a mais cara do sul do Brasil, com R$ 6,04, contra R$ 5,93 de Santa Catarina e R$ 5,87 do Rio Grande do Sul, que mesmo com todo o desastre é mais barato. Se for comparar com São Paulo, que tem preço médio de R$ 5,62, a diferença é ainda maior”, comentou Shimoyama, em entrevista à Gazeta do Povo.
O alto custo criado pela rede de distribuição, alertou Shimoyama, é outro fator preponderante na alta nas bombas. O professor criticou, principalmente, a grande margem de lucro aplicada pelas distribuidoras, caminho obrigatório entre as refinarias e os postos de combustíveis.
“Temos uma refinaria próxima a Curitiba, isso diminui a distância e em tese baixaria o custo com o deslocamento deste combustível. Mas o que a gente vê são preços parecidos independente da distância. A lei proíbe os postos de comprarem direto da refinaria e obriga a intermediação de uma distribuidora. A partir daí, eles podem fazer o que quiserem”, avaliou.
O economista e assessor econômico da Federação do Comércio do Estado do Paraná (Fecomércio-PR), Lucas Dezordi, detalhou à reportagem da Gazeta do Povo os percentuais que afetam a composição do preço final da gasolina. No exemplo, ele usou o preço médio do combustível no Paraná, R$ 6,04.
“Isso é na média do estado, mas se formos olhar só para o cenário de Curitiba, essa fatia das distribuidoras e revenda sobe para 23%, cerca de R$ 1,43. Em Santa Catarina, a margem é de R$ 1,10, dá uma fatia de 18,5%. Em São Paulo, esse custo da distribuição é de R$ 0,80, dá 14% de margem. É uma diferença muito grande, para Curitiba esse custo de distribuição é de quase um quarto do preço final”, avaliou.
E por que a margem das distribuidoras é tão maior em Curitiba do que em outras cidades? Para Dezordi, uma das explicações seria o alto padrão médio de vida na capital paranaense. De acordo com dados do IBGE, Curitiba vem registrando um aumento constante no PIB per capita desde 2010. Naquele ano, o índice era de R$ 33,2 mil. Em 2021, ano mais recente disponível na série histórica, o PIB per capita saltou para R$ 49,9 mil.
“É uma cidade considerada rica, e isso se vê, por exemplo, na quantidade de carros de alto valor. O percentual de desempregados é mais baixo do que em outras cidades, e isso ajuda também nesses números. E é aí que as distribuidoras trabalham com essas margens maiores, que acabam sendo repassadas pelos postos ao consumidor final”, pontuou.
Em nota enviada à Gazeta do Povo, o Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis no Paraná (Paranapetro) lembrou que no Brasil o mercado de combustíveis é livre para formular os preços em todos os elos da cadeia, incluindo refinarias, importação, distribuição e revenda.
A nota confirma a hipótese do economista Lucas Dezordi ao afirmar que as distribuidoras possuem políticas de preço diferentes para cada cidade. “Elas praticam preços diferentes de uma cidade para outra, mesmo próximas. Até mesmo dentro de uma mesma cidade as companhias distribuidoras vendem aos postos de combustíveis com preços que variam conforme bairro, região ou relacionamento comercial com cada posto. Como o mercado é livre, isto é possível, e ocorre com frequência”, afirma a nota.
O sindicato aponta que os preços altos praticados em Curitiba se explicam por outros fatores, como o custo de manutenção dos postos de combustíveis, que segundo o Paranapetro são muito maiores em Curitiba do que no interior do estado.
“Cidades diferentes têm custos diferentes para manutenção das empresas. Distância da refinaria e transporte do produto até o ponto de venda, portanto, não são os únicos fatores de composição dos preços, nem sequer os mais importantes ou determinantes”, detalhou.
A reportagem da Gazeta do Povo tentou contato com o Sindicato das Empresas Distribuidoras de Combustíveis do Estado do Paraná (Sicompar), mas não obteve retorno nas ligações e mensagens enviadas. A Gazeta do Povo também não recebeu retornos dos pedidos de nota e entrevista enviados ao Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), que concentra as maiores distribuidoras de combustíveis do país. O espaço segue aberto para manifestações.
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