Eu pensei em algo especial para esse dia tão importante no calendário, porém eu convivo com mulheres fortes, sempre fui rodeado por elas, as melhores são as que discutem, partilham e debatem assuntos, teimam te olham nos olhos e parece vir àquela questão que só eu penso: “e aí?”, e não existe coisa melhor que lembrar delas em flashes de convívio ou através de um mosaico de memórias.
Eu observo desde a minha criação por uma mulher que de mãe, Iza Gomes, virou empresária – alguém vai lembrar de Casa das Noivas e Iza Atelier das Noivas -, evangélica, esposa devotada e fã de Jovem Guarda e Beatles, que desde criança me fez gostar de música e rock (sim, quebrando precedente nos anos 70), ouvindo muitas trilhas internacionais de novela, disco dos Beatles, Roberto Carlos, Erasmo Carlos.

Mulher de pulso firme, a verdadeira dona DA casa (não “de casa”), que me orientou a ser educado, respeitar as mulheres e principalmente a ouvir.
O mérito disso tudo além da criação que segui a risca, ainda que a vida nos leve a cometer os deslizes de aprendizado, é OUVIR. Ouça as mulheres, entenda, compreenda e veja o que é possível ensinar e aprender. Relações funcionam melhor assim, seja fraternal ou amorosa. É o óbvio, não adianta discutir a razão e quem manda, mas chegar a um ponto de conciliação para se viver bem, respeitando os espaços e a individualidade de cada um.
Nessa data o que eu mais leio e vejo publicado nos sites de notícias e comportamento é o empoderamento feminino, o crescimento no mercado de trabalho com mulheres que sobressaem mais que os homens em áreas importantes, seja na área administrativa ou econômica. Mas, além disso, são mulheres que impõe ritmo a essa nova era de instantaneidade virtual e objetividade nos relacionamentos.
E eu vejo também nas mesmas páginas a violência, a máscara que cai de muitos homens que não aceitam o confrontamento linear feminino diante dos direitos delas, da vida delas e o fato de que elas para eles devem ser subjugadas ou submissas a relacionamentos impulsivos, agressivos e virulentos, como ainda ocorrem nas devidas proporções entre as classes sociais.
Para ter uma ideia o percentual de mulheres agredidas por ex-companheiros subiu de 13% para 37% entre 2011 e 2019, incluindo situações em que os agressores eram ex-maridos e também ex-namorados no momento do ataque.
Esses números representam um aumento de 284% desses casos. Os dados são da 8ª edição da Pesquisa Nacional sobre Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, realizada pelo Instituto de Pesquisa Data Senado em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência.
Mesmo diante de conquistas claras das mulheres, muitas independentes, de sucesso em suas carreiras, o machismo latente ainda perturba esses tempos modernos, e horizonte ainda é obscuro.
O dia internacional da mulher é uma conquista soberana desde que em 1975 foi instituída essa data comemorativa, mas vale ressaltar que não é de comemoração, a meu ver, mas representa uma celebração do feminino como um dia de protesto por lutar por mais direitos – além dos conquistados – e permanecer o respeito pelas suas escolhas e a busca de sempre revolucionar.
E PATRÍCIA…
Eu poderia citar tantas mulheres que lutaram, revolucionaram e buscaram representatividade diante do machismo, de períodos soturnos e que moldaram e modificaram a história do poder feminino e suas conquistas.
Mas eu vou citar a Patrícia, Patrícia Galvão, a Pagu, que é uma das mulheres que eu mais admiro. Ela tem uma história singular no Brasil e deixou marcas profundas não só por ser a primeira mulher a ser presa por motivos políticos, ela era militante do partido comunista brasileiro. E olha que foram 23 prisões sofridas em toda a sua vida. Isso bem antes do período da ditadura militar.
Esse ano se comemora 110 anos de seu nascimento. Escritora, poeta, tradutora, desenhista, jornalista e militante política, seu primeiro romance, “Parque Industrial”, retratava a desigualdade em uma cidade grande e os excluídos da sociedade paulistana, forte para época, tanto que ela teve que utilizar um pseudônimo, Mara Lobo.
Foi casada com o escritor Oswald de Andrade e era muito amiga da artista plástica Tarsila do Amaral, com quem ajudou a criar o movimento antropofágico. Chegou a ficar presa por cinco anos, sendo torturada e por conta disso acabou tendo problemas de saúde, logo se separou de Oswald e se casou novamente, agora com o jornalista e escritor Geraldo Ferraz.
Quando saiu da prisão em 1940 Pagu saiu do Partido Comunista e passou a defender um socialismo de linha trotskista. Tentou ser deputada e não conseguiu, e na década de 50 se tornou figura frequente da Escola de Arte Dramática de São Paulo, levando seus espetáculos a Santos, quando se ligou ao teatro de vanguarda e apresentou sua tradução de A Cantora Careca de Eugène Ionesco.
Patrícia traduziu e dirigiu Fando e Liz de Fernando Arrabal, numa montagem amadora na qual estreava o jovem ator Plínio Marcos. Também traduziu poemas de Guillaume Apollinaire.
Ela morreu em 1962 e deixa vários escritos inéditos, que começam a ser organizados e publicados posteriormente, como os contos policiais reunidos em Safra Macabra, originalmente escritos para a revista Detective, editada por Nelson Rodrigues (1912-1980), com o pseudônimo King Shelter. E era uma escrita forte e genial.
Ela tem uma representatividade muito forte no âmbito feminino brasileiro e inspirou outras mulheres a seguir uma linha mais independente e artisticamente relevante.
A atriz e diretora de cinema, Norma Benguell, fez um filme bonito sobre Patrícia Galvão, “Eternamente Pagu” (1988), com a atriz Carla Camurati no papel título. Se tiver tempo, assista, é uma ótima dica para o dia.