Pela primeira vez, o Congresso dos Estados Unidos recomendou ao Departamento de Justiça a apresentação de acusações criminais contra um ex-presidente. Por unanimidade, em sua última reunião, os integrantes do Comitê de Investigação sobre a Invasão ao Capitólio (sete democratas e dois republicanos), criado pela Câmara dos Representantes, solicitaram que o magnata Donald Trump, 76 anos, seja formalmente indiciado pelos crimes de incitação à insurreição, obstrução de procedimento oficial, conspiração para fraudar o governo e declarações falsas. O ataque ao Congresso, em 6 de janeiro de 2021, deixou cinco mortos, terminou em 900 presos e colocou em xeque uma das mais sólidas democracias do planeta.
Na prática, a recomendação do Comitê é uma medida simbólica, não uma exigência de ação por parte do Departamento de Justiça. O procurador-geral, Merrick Garland, havia nomeado o conselheiro especial Jack Smith para liderar duas investigações contra Trump, incluindo o seu papel na invasão ao Capitólio. No entanto, os deputados norte-americanos deixam expressa a conclusão sobre o grau de envolvimento do ex-presidente republicano. Caso Garland aceite a recomendação, Trump deverá ser julgado por uma Corte federal.
No início da noite de ontem, o magnata republicano declarou que o Comitê pretende barrar sua candidatura à Casa Branca. “As acusações falsas feitas pelo altamente partidarizado ‘Comitê não Selecionado’ já foram apresentadas”, escreveu Trump em sua plataforma, a Truth Social. “Ganhei de forma convincente. (…) Todo este assunto de me processar é como foi o julgamento político: uma tentativa partidária de marginalizar a mim e ao Partido Republicano.”
“Se quisermos sobreviver como uma nação de leis e de democracia, isso jamais pode voltar a ocorrer”, alertou Bennie Thompson, presidente do Comitê. A vice, Liz Cheney, afirmou que Trump “não é apto para ocupar nenhum cargo” e denunciou uma “clara negligência” do ex-presidente. “Ninguém que se comportou assim naquele momento pode voltar a ocupar um cargo de autoridade em nossa nação”, desabafou. Durante 17 meses de trabalhos, o Comitê inquiriu mais de mil testemunhas, se debruçou sobre milhões de páginas de documentos e realizou nove audiências públicas.
Fonte: Rodrigo Craveiro